Como os vestígios forenses são analisados?
Em uma cena de crime, nenhum detalhe é irrelevante. Fios de cabelo em um travesseiro, fragmentos de unha sob as garras de uma vítima, partículas de solo nas solas de um sapato. Todos esses elementos são vestígios forenses que, quando analisados com rigor científico, podem desvendar acontecimentos, confirmar suspeitas ou inocentar injustamente acusados. A análise desses vestígios exige conhecimento técnico multidisciplinar e, sobretudo, domínio das técnicas laboratoriais aplicadas à ciência forense.
Cabelo: uma testemunha silenciosa
O fio de cabelo é um dos vestígios biológicos mais encontrados em locais de crime. Ele é resistente, estável ao tempo e, muitas vezes, pode conter informações genéticas e químicas valiosas. A análise forense de cabelo se divide em três abordagens principais:
- Exame macroscópico: avaliação da cor, comprimento, forma (lisa, ondulada, crespa), espessura e presença de raiz.
- Exame microscópico: observação das estruturas do fio em microscopia óptica ou eletrônica, incluindo cutícula, córtex e medula. Esse exame pode indicar se o fio foi arrancado, cortado ou caiu naturalmente — um dado crucial em investigações de agressão ou luta corporal.
- Análise molecular: envolve extração de DNA para identificação genética. Quando o bulbo piloso está presente, é possível extrair DNA nuclear, ideal para gerar perfis genéticos individualizados. Quando ausente, pode-se tentar a análise de DNA mitocondrial, herdado da linhagem materna, útil para exclusão ou inclusão parcial de suspeitos.
Exame toxicológico em cabelo: o histórico químico do corpo
Além da identificação genética, o cabelo também é amplamente utilizado em toxicologia forense. Substâncias como cocaína, maconha, metanfetaminas, benzodiazepínicos e antidepressivos se incorporam à matriz capilar à medida que o cabelo cresce. Assim, é possível não apenas detectar a presença dessas drogas, mas também estimar o padrão e a cronologia do uso.
- A janela de detecção em cabelo pode chegar a 90 dias ou mais, enquanto em urina ou sangue é de apenas algumas horas a dias.
- A amostra padrão é de 3 cm de cabelo, coletada próxima ao couro cabeludo, o que corresponde aproximadamente aos últimos 3 meses de exposição.
- As técnicas laboratoriais mais usadas incluem cromatografia líquida ou gasosa acoplada à espectrometria de massas (LC-MS/MS ou GC-MS), com alta sensibilidade e especificidade.
Esse tipo de exame é amplamente aplicado em investigações de crimes relacionados ao uso de substâncias ilícitas, casos de intoxicação, monitoramento judicial de usuários em liberdade condicional e até em necropsias de mortes suspeitas.
Unhas, saliva e outros vestígios biológicos
Assim como os cabelos, fragmentos de unhas, saliva e secreções também podem conter material genético viável. Em casos de defesa pessoal, por exemplo, é comum encontrar epitélio do agressor sob as unhas da vítima. A análise segue os mesmos princípios da biologia molecular:
- Coleta com instrumentos estéreis e preservação adequada (geralmente em temperatura ambiente seca ou em refrigerador, dependendo da matriz).
- Extração de DNA por kits comerciais ou métodos manuais (como fenol-clorofórmio).
- Amplificação do DNA por PCR (reação em cadeia da polimerase) e tipagem por eletroforese capilar.
- Comparação do perfil obtido com amostras de referência ou com bancos de dados genéticos.
Outras amostras, como saliva em copos, bitucas de cigarro e roupas, também são fontes valiosas de DNA e devem ser tratadas com extremo cuidado para evitar contaminação.
Vestígios não biológicos: tudo pode ser evidência
A perícia também analisa uma série de vestígios não biológicos, como:
- Fibras têxteis: importantes em casos de violência, podem indicar contato físico entre pessoas ou entre a vítima e o agressor. Analisadas por microscopia comparativa e espectroscopia Raman ou FTIR.
- Fragmentos de tinta ou vidro: comuns em acidentes automobilísticos ou arrombamentos. São examinados por microscopia, testes físico-químicos e espectrometria.
- Solo e minerais: partículas de terra podem incriminar suspeitos que estiveram em determinado local. Técnicas como difração de raios X (XRD) e espectrometria de fluorescência de raios X (XRF) ajudam na análise da composição.
Cada vestígio tem seu próprio protocolo de coleta, armazenamento, análise e interpretação. A confiabilidade dos resultados depende do rigor técnico e da correta manutenção da cadeia de custódia, garantindo que as provas permaneçam íntegras do local do crime até o laudo pericial.
Atuar na área de Ciências Forenses e Perícia Criminal requer muito mais do que curiosidade investigativa. É necessário ter domínio de técnicas laboratoriais avançadas, conhecimento em genética, toxicologia, química analítica e protocolos legais. Por isso, a formação especializada é fundamental para quem deseja trilhar esse caminho com responsabilidade e segurança técnica.
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