,

Quais fatores afetam o resultado dos exames?

A etapa pré-analítica é frequentemente negligenciada por estudantes e até mesmo por profissionais da saúde. No entanto, ela é responsável por cerca de 70% dos erros laboratoriais, sendo decisiva para a confiabilidade dos resultados. Dentro desse universo, o jejum, o uso de medicamentos como diuréticos e hipoglicemiantes, e o preparo inadequado do paciente podem interferir significativamente na interpretação dos exames bioquímicos e hematológicos.

A importância do jejum nos exames

O jejum é uma das orientações mais comuns dadas ao paciente antes da coleta de sangue. Ele tem como principal objetivo evitar interferências metabólicas provocadas pela ingestão recente de alimentos.

O tempo de jejum recomendado varia conforme o exame solicitado. Por exemplo:

  • Glicemia em jejum: mínimo de 8 horas;
  • Perfil lipídico completo: entre 9 a 12 horas;
  • Dosagens hormonais: jejum pode ser necessário, dependendo do hormônio em questão.

Durante o jejum, há uma diminuição dos níveis circulantes de glicose e lipídios pós-prandiais, o que evita resultados falsamente elevados e permite uma interpretação mais acurada dos parâmetros metabólicos. Quando o jejum é insuficiente ou desnecessariamente prolongado, pode ocorrer hipoglicemia ou mobilização anormal de lipídios, alterando os resultados.

Diuréticos e alterações hidroeletrolíticas

Os diuréticos são medicamentos amplamente utilizados no tratamento da hipertensão arterial, insuficiência cardíaca e doenças renais. Eles atuam promovendo a eliminação de sódio e água pelos rins, o que inevitavelmente altera o equilíbrio hidroeletrolítico do organismo.

Dentre os principais efeitos laboratoriais associados ao uso de diuréticos, destacam-se:

  • Hipocalemia (↓ potássio): comum com diuréticos tiazídicos e de alça;
  • Hiponatremia (↓ sódio): sobretudo em idosos ou em uso prolongado;
  • Hipercalcemia (↑ cálcio): em alguns casos, especialmente com tiazídicos;
  • Aumento da ureia e creatinina: indicando possível hipoperfusão renal.

Essas alterações, se não reconhecidas, podem ser interpretadas como patologias primárias e não como efeitos medicamentosos. Além disso, a coleta deve sempre considerar a última dose do fármaco, pois a flutuação dos níveis séricos é rápida após a administração.

Hipoglicemiantes e sua interferência nos exames

Pacientes com diabetes mellitus que fazem uso de hipoglicemiantes orais (como metformina, glibenclamida, glicazida) ou insulina devem ter atenção especial antes da coleta. A administração dessas drogas em jejum pode induzir episódios de hipoglicemia, especialmente se a coleta for prolongada ou se o paciente estiver em jejum há mais de 8 horas.

Além da hipoglicemia propriamente dita, outros efeitos laboratoriais incluem:

  • Alteração nos níveis de lactato: a metformina, por exemplo, pode causar acidose láctica em situações específicas;
  • Redução transitória da glicemia plasmática, o que pode mascarar descompensações metabólicas;
  • Interferência em exames hormonais e enzimáticos pela ativação do eixo contrarregulatório em resposta à hipoglicemia.

Por isso, é fundamental individualizar as orientações pré-exame para pacientes diabéticos. Em alguns casos, o uso da medicação deve ser suspenso no dia da coleta ou adiado para após o exame, sempre com orientação médica.

Outras considerações relevantes

Além do jejum e do uso de medicamentos, outros fatores também interferem na fase pré-analítica:

  • Exercício físico intenso antes da coleta: pode elevar CK, LDH, AST e lactato;
  • Tabagismo e consumo de álcool: alteram parâmetros hepáticos, lipídicos e hematológicos;
  • Estresse e ansiedade: interferem na secreção de cortisol, adrenalina e glicose;
  • Hidratação inadequada: influencia na viscosidade do sangue e concentração de solutos.

O conhecimento desses fatores é essencial para garantir uma prática laboratorial segura, eficaz e alinhada com os preceitos da medicina baseada em evidências.

O laboratório clínico não é apenas um lugar onde tubos são analisados, é um ambiente de alta complexidade que exige preparo técnico, raciocínio crítico e profundo conhecimento dos fatores que interferem nos exames. Saber quando jejum é necessário, como os medicamentos impactam os resultados e de que forma orientar corretamente o paciente pode ser o diferencial entre um diagnóstico correto e um erro clínico com consequências graves.

Se você é estudante da área da saúde, invista tempo em entender a fase pré-analítica. Ela é o primeiro passo para se tornar um profissional de excelência.

Comece a investir na sua carreira e nos seus conhecimentos com a nossa pós-graduação em análises clínicas. Clique aqui e saiba mais.