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Mitos e realidades das criaturas sobrenaturais

As criaturas sobrenaturais sempre fascinaram a humanidade, alimentando mitos e lendas em diversas culturas. Entre elas, os vampiros, lobisomens e zumbis são os mais conhecidos. No entanto, muitos dos atributos atribuídos a essas entidades podem ser compreendidas através de condições biológicas e doenças que provocam sintomas semelhantes aos das criaturas mitológicas.

Vampiros e a porfiria

Os vampiros são frequentemente descritos como criaturas noturnas que se alimentam do sangue dos vivos, apresentando características como palidez extrema, aversão à luz solar e dentes afiados. Embora não existam vampiros como os da ficção, a porfiria é uma condição que pode produzir sintomas que lembram a imagem clássica do vampiro. A porfiria é um grupo de desordens metabólicas que afetam a produção de heme, uma molécula essencial na hemoglobina do sangue.

Os portadores de porfiria podem apresentar uma sensibilidade extrema à luz solar, resultando em queimaduras e cicatrizes na pele. A condição pode levar a mudanças comportamentais, como ansiedade e delírios. Assim, a palidez e a aversão à luz solar observadas em pessoas com porfiria podem ter contribuído para o mito dos vampiros. Outro fator a ser considerado é a ideia de que esses indivíduos poderiam ter tendências agressivas, uma vez que a porfiria está associada a distúrbios psiquiátricos em alguns casos.

A literatura médica do século XIX e os relatos de casos de catalepsia frequentemente descreviam pessoas que, após episódios cataleptóides, pareciam ter morrido. Essa semelhança com a morte levou a uma série de superstições. Em muitas culturas, a ideia de um morto que retornava à vida estava profundamente enraizada em suas tradições. As associações entre catalepsia e vampirismo são mais evidentes em histórias de vampiros do século XVIII e XIX, onde a figura do vampiro frequentemente se apresentava como um cadáver reanimado. A obra “Drácula”, de Bram Stoker, por exemplo, utiliza elementos de catalepsia para descrever o estado dos vampiros.

Lobisomens e a raiva

Os lobisomens, uma das criaturas sobrenaturais mais famosas, são outro exemplo de como doenças podem distorcer a percepção de comportamento humano. A raiva, uma infecção viral que afeta o sistema nervoso, é conhecida por causar uma série de sintomas que poderiam facilmente ser confundidos com a transformação em lobisomens. A raiva é transmitida principalmente pela mordida de um animal infectado e, após um período de incubação, causa sintomas como agitação extrema, alucinações e comportamento agressivo.

Os portadores da raiva podem desenvolver hidrofobia (medo de água) e fobias associadas a estímulos externos, levando a um comportamento errático e feroz. A transformação física de um humano em um lobisomem pode ser uma metáfora para a perda de controle que a raiva induz, refletindo o comportamento violento que a doença provoca. Assim, é possível que lendas de lobisomens tenham surgido como explicações para ataques violentos de indivíduos que estavam, na verdade, sofrendo com raiva.

Zumbis e a neurossífilis

Os zumbis, frequentemente representados como cadáveres reanimados que consomem carne humana, têm raízes nas tradições afro-caribenhas, particularmente no vodoo. Embora a ideia de mortos-vivos pareça puramente fictícia, há condições médicas que podem explicar o comportamento associado a essa criatura. A neurossífilis, uma forma avançada da sífilis, pode levar a alterações comportamentais significativas, incluindo demência e perda de controle motor.

Substâncias como a toxina de baicu (tetrodotoxina), usadas em práticas de vodoo, podem causar estados semelhantes a mortes clínicas. Aqueles que são envenenados e depois recuperados podem ser vistos como “zumbis” por suas características físicas alteradas e comportamento desorientado. As crenças em zumbis podem ter sido uma tentativa de explicar comportamentos associados a condições médicas, especialmente em culturas que não possuíam um entendimento claro da biologia por trás das doenças.

Mitos e realidades das criaturas sobrenaturais estão intrinsecamente ligados às condições biológicas que afetam o comportamento humano. Ao analisar as bases biológicas dessas criaturas, percebemos que muitas lendas e mitos podem ter surgido como tentativas de explicar comportamentos estranhos e medos coletivos, revelando a complexidade das interações entre a ciência, a cultura e a imaginação humana. A linha entre a realidade e o sobrenatural se torna, assim, uma ponte fascinante entre o que conhecemos e o que tememos, ecoando através dos séculos.

Referência bibliográfica:

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