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Soro lipêmico, hemolítico ou ictérico?

A avaliação macroscópica do aspecto do soro ou plasma após a centrifugação da amostra é um passo essencial no controle de qualidade pré-analítico. Alterações na coloração ou na turbidez podem indicar interferentes que comprometem a exatidão e a confiabilidade dos resultados laboratoriais. Dentre os principais padrões de alteração visual estão o soro lipêmico, hemolítico e ictérico, cada um com causas distintas e implicações analíticas importantes.

SORO LIPÊMICO

O soro lipêmico apresenta um aspecto lácteo ou turvo, causado pela presença excessiva de lipídios, principalmente triglicerídeos, na amostra. Essa turbidez interfere na absorbância de diversos métodos espectrofotométricos, podendo impactar exames como glicose, bilirrubinas, enzimas hepáticas e eletrólitos.

As causas da lipemia incluem:

  • Jejum inadequado antes da coleta (menos comum em coletas hospitalares);
  • Hipertrigliceridemias primárias ou secundárias (como no diabetes descompensado, alcoolismo, síndrome nefrótica);
  • Administração recente de emulsões lipídicas parenterais.

Laboratórios bem estruturados adotam protocolos de ultracentrifugação ou métodos de correção matemática, mas muitas vezes a melhor conduta é a solicitação de nova coleta após jejum adequado, sempre que possível.

SORO HEMOLÍTICO

A hemólise confere ao soro ou plasma uma coloração rósea ou avermelhada, visível após centrifugação. Trata-se de uma das mais frequentes causas de rejeição de amostras. A hemoglobina livre interfere diretamente em métodos fotométricos, mas os maiores impactos estão relacionados à liberação de componentes intracelulares, como:

  • Potássio: pseudohiperpotassemia;
  • LDH e AST: aumentos falsos;
  • Fosfato inorgânico e magnésio: alterações variáveis.

A hemólise pode ser in vivo (anemias hemolíticas, reações transfusionais, infecções) ou in vitro, geralmente causada por falhas na coleta: agulhas finas, tração brusca do êmbolo, homogeneização inadequada, entre outros. A diferenciação entre ambas é essencial, pois impacta diretamente o julgamento clínico e a decisão sobre repetir ou não a coleta.

SORO ICTÉRICO

O soro ictérico apresenta coloração amarelada intensa, devido ao aumento da bilirrubina, especialmente da fração não conjugada. As causas incluem:

  • Hemólise crônica ou aguda;
  • Doenças hepáticas (hepatites, cirroses);
  • Obstrução biliar (cálculos, tumores).

A bilirrubina interfere em reações que dependem de espectros de absorção próximos ao seu, como creatinina, ureia, colesterol e proteínas totais. Além disso, sua presença pode mascarar ou acentuar outras alterações visuais (como a hemólise discreta), dificultando a triagem visual.

A triagem visual do soro ou plasma é uma prática indispensável no contexto laboratorial, servindo como alerta para interferências que, embora nem sempre visíveis aos olhos do paciente ou do clínico, comprometem de maneira significativa a confiabilidade diagnóstica. Reconhecer um soro lipêmico, hemolítico ou ictérico não é apenas uma habilidade técnica, mas um sinal de excelência do profissional de coleta e de análise, que compreende a importância de cada detalhe no cuidado com a amostra e, por consequência, com o paciente.

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