SISTEMA FECHADO
Durante a Segunda Guerra Mundial, o mundo presenciou não apenas um conflito devastador, mas também um avanço sem precedentes na medicina e na tecnologia biomédica. Entre as descobertas mais transformadoras desse período, uma inovação silenciosa mudou para sempre a forma como o sangue é coletado, transportado e analisado: o sistema fechado de coleta sanguínea.
Naquele contexto caótico, médicos e cientistas enfrentavam um desafio urgente, salvar vidas através de transfusões seguras e rápidas. No entanto, os métodos de coleta disponíveis eram rudimentares, inseguros e propensos à contaminação. Foi em meio às trincheiras e hospitais improvisados que nasceu a ideia de isolar o sangue do ambiente externo, reduzindo o risco de infecção e garantindo sua preservação.
O cenário da Segunda Guerra Mundial
No início da década de 1940, a medicina militar precisava lidar com ferimentos graves e grandes perdas de sangue em campo. A transfusão era uma das únicas alternativas viáveis, mas as condições de coleta e armazenamento eram precárias.
Os profissionais utilizavam o sistema aberto, composto por seringas e frascos expostos, o que aumentava a chance de contaminação bacteriana, coagulação e deterioração do material coletado. Além disso, o transporte das amostras até os centros médicos era lento e ineficiente.
A urgência do conflito impulsionou a criatividade científica. Pesquisadores e médicos começaram a buscar alternativas que pudessem eliminar o contato direto do sangue com o ambiente, reduzir o tempo de coleta e, ao mesmo tempo, garantir a segurança de quem manipulava as amostras. Foi nesse contexto que as primeiras versões do sistema fechado começaram a ser idealizadas.
Como o Vacutainer revolucionou o sistema fechado de coleta sanguínea
A virada histórica aconteceu em 1947, quando o inventor Joseph Kleiner, em parceria com a empresa Becton Dickinson (BD), desenvolveu o Vacutainer, um tubo de coleta a vácuo que revolucionou a medicina laboratorial.
A ideia era simples, mas brilhante: utilizar a pressão negativa dentro do tubo para permitir que o sangue fosse aspirado diretamente da veia, sem necessidade de aspiração manual e sem exposição ao ar. Esse novo sistema eliminava etapas críticas de manipulação e, consequentemente, reduzia a probabilidade de erros e contaminações.
O Vacutainer era composto por três elementos fundamentais:
- Agulha dupla, que permitia a conexão simultânea com o paciente e o tubo de coleta.
- Suporte (holder), que mantinha a agulha estável durante a punção.
- Tubo selado a vácuo, responsável por aspirar automaticamente o volume correto de sangue.
Assim, o sangue passava da veia para o tubo em um circuito completamente fechado, sem contato com o ambiente, com o profissional ou com o ar. Essa inovação transformou radicalmente a prática laboratorial.
A consolidação da segurança biológica
Nas décadas seguintes, a adoção do sistema fechado se expandiu rapidamente. Além da precisão e da praticidade, o principal diferencial era a biossegurança, conceito que começava a ganhar importância na medicina moderna.
Com o avanço das doenças transmissíveis e a necessidade de proteger tanto os profissionais de saúde quanto os pacientes, o sistema fechado se mostrou a solução ideal. A exposição ao sangue diminuiu drasticamente, reduzindo o risco de hepatite, HIV e outros patógenos.
Além disso, os tubos passaram a ser fabricados com materiais plásticos descartáveis, substituindo o vidro e tornando o processo ainda mais seguro. A introdução de tampas codificadas por cores também facilitou a padronização de aditivos e anticoagulantes, aprimorando a qualidade das análises clínicas.
Por exemplo:
- Tubos com EDTA passaram a ser utilizados para hematologia;
- Tubos com citrato de sódio para coagulação;
- Tubos com gel separador para bioquímica e sorologia.
Cada cor indicava não apenas o tipo de análise, mas também o cuidado na sequência de coleta, o que ajudou a reduzir interferências entre amostras e a aumentar a confiabilidade dos resultados.
O impacto do sistema fechado na prática laboratorial
O sistema fechado não apenas aprimorou a coleta em termos técnicos, mas também redefiniu a rotina dos laboratórios. A automatização parcial da coleta trouxe agilidade, padronização e previsibilidade ao processo.
Além disso, o controle do volume coletado passou a ser mais preciso, evitando coletas insuficientes ou excessivas, e o tempo de manipulação das amostras foi reduzido. Isso resultou em menor hemólise, melhor estabilidade dos componentes sanguíneos e maior qualidade dos resultados laboratoriais.
Com o passar dos anos, novos aprimoramentos surgiram, como o uso de dispositivos de segurança retráteis, sistemas com múltiplas conexões e tecnologias de microcoleta, voltadas especialmente para neonatos e pacientes críticos.
Consequentemente, o sistema fechado tornou-se um padrão global. Hoje, ele é indispensável em hospitais, bancos de sangue e laboratórios clínicos de todos os portes, sendo reconhecido como uma das práticas mais seguras e eficientes na área da saúde.
Um legado de inovação e segurança
O que começou como uma solução emergencial durante um dos períodos mais sombrios da humanidade tornou-se um símbolo de progresso científico e cuidado humano. O sistema fechado é, até hoje, um dos maiores exemplos de como a ciência evolui a partir da necessidade.
Ele representa não apenas uma mudança de técnica, mas também uma mudança de mentalidade, o reconhecimento de que cada etapa do processo laboratorial influencia diretamente a segurança, a confiabilidade e, em última instância, a vida do paciente.
Por isso, compreender a história do sistema fechado é compreender a própria história da biossegurança e da qualidade nas análises clínicas.
O sistema fechado nasceu da urgência e se consolidou pela eficiência. Da Segunda Guerra Mundial aos laboratórios altamente automatizados do século XXI, essa tecnologia se manteve essencial, adaptando-se às novas demandas e garantindo a integridade do sangue, a proteção do profissional e a precisão do diagnóstico.
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