O início da quimioterapia

Quimioterapia é um termo muito estudado na área da sáude e você provavelmente sabe um pouco sobre esse assunto. Mas de onde surgiu a quimioterapia? Hoje vamos explorar o início desse tratamento e como ele foi criado.

Como surgiu a quimioterapia

Em suma, a história dos quimioterápicos começa de maneira sombria, durante a Primeira Guerra Mundial. O gás mostarda, um agente químico letal, foi utilizado como arma, causando queimaduras severas e lesões internas nos soldados expostos. No entanto, algo surpreendente foi observado: além das queimaduras, o gás mostarda causava uma drástica redução nos glóbulos brancos dos soldados expostos. Essa observação indicava que o gás tinha a capacidade de atacar células que se dividem rapidamente, do mesmo modo que as células cancerígenas.

Embora essas observações iniciais não tenham levado imediatamente ao desenvolvimento de terapias contra o câncer, elas plantaram a semente para futuras investigações. Nesse sentido, a conexão entre agentes químicos e a capacidade de alterar o comportamento das células no corpo humano começava a se formar.

A luta contra o câncer

O verdadeiro despertar para o potencial dos agentes químicos na luta contra o câncer ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, em um incidente conhecido como o “Desastre de Bari”. Em 2 de dezembro de 1943, um ataque aéreo alemão atingiu o porto de Bari, na Itália, onde navios aliados estavam atracados. Um desses navios, o SS John Harvey, estava secretamente carregando bombas cheias de gás mostarda. A explosão resultante liberou o gás no ar, contaminando centenas de soldados e civis.

Os médicos que trataram as vítimas do desastre notaram que os sobreviventes apresentavam uma drástica redução nos glóbulos brancos, de maneira idêntica ao que havia sido observado durante a Primeira Guerra Mundial. Esse incidente chamou então a atenção dos pesquisadores, que começaram a explorar a ideia de que compostos químicos semelhantes ao gás mostarda poderiam ser usados para atacar células cancerígenas, que também se dividem rapidamente.

A partir dessas observações, os cientistas começaram a investigar compostos relacionados ao gás mostarda. Um dos primeiros compostos a ser estudado foi a mecloretamina, uma versão modificada do gás mostarda, conhecida como nitrogênio mostarda. Em 1942, os médicos Louis Goodman e Alfred Gilman, da Universidade de Yale, começaram a testar a mecloretamina em pacientes com linfoma avançado, uma forma de câncer que afeta o sistema linfático.

Resultados

Surpreendentemente, os resultados foram promissores: pela primeira vez, foi observado que a mecloretamina podia reduzir o tamanho dos tumores linfáticos em humanos, proporcionando alívio temporário dos sintomas. Este foi um marco importante, pois demonstrou que a quimioterapia, ou seja, o uso de compostos químicos para tratar o câncer, poderia ter efeitos terapêuticos significativos.

Enquanto isso, em Boston, o patologista Sidney Farber estava investigando o papel do ácido fólico na divisão celular. Ele postulou que, ao bloquear o ácido fólico, poderia interromper a proliferação de células cancerígenas. Nesse sentido, Farber começou a experimentar antagonistas do ácido fólico, como a aminopterina, em crianças com leucemia linfoblástica aguda.

Em 1947, Farber alcançou um avanço notável: a aminopterina induziu remissão temporária em várias crianças com leucemia, marcando a primeira vez que uma droga havia sido comprovadamente eficaz contra o câncer em um ensaio clínico. Inegavelmente, essa descoberta lançou as bases para a quimioterapia moderna e foi amplamente considerada como a primeira grande vitória no tratamento farmacológico do câncer.

Avanços na quimioterapia

Nas décadas seguintes, a pesquisa em quimioterápicos expandiu-se rapidamente. Novas classes de drogas foram descobertas, incluindo agentes alquilantes, antimetabólitos, antibióticos antitumorais, e alcaloides vegetais. Cada um desses grupos de drogas atacava o câncer de maneiras diferentes, aumentando a eficácia do tratamento.

Um dos avanços mais importantes foi a introdução da terapia combinada, onde diferentes quimioterápicos são administrados juntos para maximizar a eficácia e minimizar a resistência do câncer ao tratamento. Essa abordagem mostrou-se particularmente eficaz em leucemias e linfomas, e rapidamente se tornou o padrão no tratamento do câncer.

Apesar dos sucessos, a quimioterapia enfrentou (e ainda enfrenta) muitos desafios. Os quimioterápicos são conhecidos por seus efeitos colaterais severos, como náuseas, queda de cabelo, e danos a órgãos saudáveis, devido à sua toxicidade e à falta de especificidade. Além disso, muitos tipos de câncer desenvolvem resistência aos quimioterápicos, o que limita a eficácia do tratamento a longo prazo. Por fim, novas terapias, como a imunoterapia e a terapia-alvo, surgiram como alternativas ou complementos à quimioterapia tradicional, oferecendo esperança de tratamentos mais eficazes e menos debilitantes.

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Referência bibliográfica:

SIDDHARTHA, Mukherjee. O imperador de todos os males: uma biografia do câncer. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.