PRESSÃO ARTERIAL

A pressão arterial é um dos principais indicadores de risco cardiovascular. Pequenas variações em seus valores refletem alterações significativas na função endotelial, na resistência vascular periférica e na regulação do volume plasmático. Por isso, é fundamental compreender as novas diretrizes de diagnóstico e manejo da hipertensão arterial, especialmente para profissionais que atuam tanto na prática clínica quanto na interpretação laboratorial.

Revisão dos valores de referência

As diretrizes internacionais recentes, principalmente da European Society of Cardiology (ESC) e European Society of Hypertension (ESH), redefiniram os limites considerados normais e limítrofes de pressão arterial. Agora, valores iguais ou superiores a 130/80 mmHg exigem acompanhamento clínico mais próximo, especialmente em indivíduos com fatores de risco metabólico, como diabetes ou dislipidemia.
Anteriormente, o limite considerado era de 140/90 mmHg, o que significa que muitos pacientes serão classificados como hipertensos mais precocemente.

Além disso, a diretriz enfatiza o uso de métodos complementares de aferição, como a MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial) e a MRPA (Medição Residencial da Pressão Arterial). Dessa forma, é possível identificar fenômenos como a hipertensão mascarada e a hipertensão do avental branco, aumentando a precisão diagnóstica e reduzindo intervenções desnecessárias.

Fisiopatologia e justificativas das novas recomendações de pressão arterial

A hipertensão resulta de uma complexa interação entre fatores genéticos, ambientais e metabólicos. Alterações na função endotelial, na atividade do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) e na sensibilidade ao sódio estão entre os principais mecanismos fisiopatológicos descritos.

Estudos recentes demonstraram que mesmo níveis discretamente elevados de pressão podem induzir estresse oxidativo, inflamação vascular crônica e disfunção de células musculares lisas, promovendo rigidez arterial precoce. Além disso, a hipertensão leve e persistente está associada ao aumento da albuminúria, um marcador precoce de lesão glomerular e risco cardiovascular ampliado.
Portanto, o rebaixamento dos pontos de corte diagnósticos é justificado e reforça a necessidade de avaliação integrada entre parâmetros hemodinâmicos e laboratoriais.

Implicações laboratoriais das novas recomendações de pressão arterial e correlação com biomarcadores

A hipertensão raramente ocorre isoladamente. Frequentemente, coexiste com dislipidemias, resistência insulínica, obesidade abdominal e alterações renais. Por isso, a interpretação laboratorial deve ser ampla e multidimensional.

Entre os parâmetros mais relevantes para o acompanhamento de pacientes hipertensos, destacam-se:

  • Creatinina e ureia: monitoram a função renal e a progressão de nefropatias hipertensivas;
  • Potássio e sódio: detectam distúrbios eletrolíticos induzidos por fármacos, especialmente diuréticos e inibidores da ECA;
  • Colesterol total, LDL, HDL e triglicerídeos: integram o perfil metabólico e avaliam risco cardiovascular global;
  • Ácido úrico: frequentemente elevado em hipertensos devido à redução da depuração renal e ao uso de diuréticos;
  • Microalbuminúria e cistatina C: biomarcadores precoces de dano renal e disfunção endotelial subclínica.

Assim, o laboratório clínico desempenha papel central na estratificação de risco e na detecção precoce de complicações.

Abordagem baseada no risco cardiovascular global

As recomendações enfatizam a avaliação integrada do risco, considerando múltiplos fatores: idade, tabagismo, histórico familiar, índice de massa corporal, perfil lipídico, glicemia e função renal.
Dessa forma, o manejo deixa de ser exclusivamente baseado na pressão arterial isolada, tornando-se mais individualizado.

Por exemplo, indivíduos com doença renal crônica ou diabetes tipo 2 podem ter metas de pressão arterial mais rigorosas. Por outro lado, pacientes idosos frágeis demandam abordagens conservadoras, evitando hipotensão iatrogênica.

Perspectivas futuras e integração multidisciplinar

O manejo da hipertensão exige cada vez mais uma abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos, biomédicos, nutricionistas, enfermeiros e farmacêuticos.
Portanto, o monitoramento contínuo, aliado à interpretação laboratorial criteriosa, é fundamental para a detecção precoce de complicações cardiovasculares e renais.

Nos próximos anos, novas ferramentas laboratoriais e tecnológicas, como painéis genéticos de predisposição à hipertensão e dispositivos digitais de monitoramento contínuo, deverão oferecer uma visão ainda mais precisa do risco cardiovascular, permitindo intervenções personalizadas e baseadas em evidências.

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