O que é caquexia?
A caquexia é uma síndrome metabólica complexa e multifatorial frequentemente observada em pacientes com doenças crônicas, como câncer, insuficiência cardíaca congestiva, doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC) e infecções graves, como a AIDS. No contexto oncológico, ela se destaca como um fenômeno clínico preocupante devido à sua elevada prevalência e impacto direto sobre a qualidade de vida, resposta ao tratamento e sobrevida dos pacientes.
Características clínicas e fisiopatologia
A caquexia trata-se de uma síndrome sistêmica caracterizada pela perda involuntária e progressiva de massa muscular esquelética, acompanhada ou não de perda de tecido adiposo. Clinicamente, manifesta-se por:
- Perda de peso significativa (mais de 5% do peso corporal em um período de 6 meses);
- Atrofia muscular (sarcopenia);
- Fadiga crônica;
- Anorexia (redução do apetite);
- Disfunção metabólica;
- Comprometimento imunológico.
Essa condição decorre de um desequilíbrio metabólico, em que o aumento do catabolismo proteico supera a síntese, levando a um balanço nitrogenado negativo. O metabolismo basal também tende a ser elevado em muitos pacientes devido à inflamação sistêmica crônica, caracterizada por altos níveis de citocinas pró-inflamatórias, como TNF-α, IL-6 e IL-1β. Essas citocinas desempenham um papel central ao promoverem a proteólise, lipólise e anorexia, agravando a perda de massa corporal.
Classificação da caquexia
A caquexia pode ser classificada em dois subtipos principais: primária e secundária.
1. Caquexia primária
A caquexia primária está diretamente relacionada às consequências metabólicas da presença do tumor, sendo frequentemente mediada por alterações inflamatórias sistêmicas. O crescimento tumoral provoca alterações profundas no metabolismo do hospedeiro, com:
- Consumo progressivo e irreversível de proteína visceral e muscular;
- Degradação da musculatura esquelética por meio da ativação da via ubiquitina-proteassoma;
- Lipólise aumentada, resultando na redução do tecido adiposo;
- Resistência à insulina, que compromete o metabolismo energético.
Além disso, a elevação de mediadores inflamatórios, como TNF-α (também chamado de caquexina), induz anorexia e hipermetabolismo, perpetuando o ciclo de perda de peso e depleção de massa magra.
2. Caquexia secundária
Na caquexia secundária, a perda de peso é principalmente atribuída à redução da ingesta calórica e absorção de nutrientes. Isso pode ocorrer devido a diversos fatores:
- Obstruções tumorais, que afetam a passagem de alimentos pelo trato gastrointestinal;
- Efeito do tratamento oncológico (quimioterapia, radioterapia), que frequentemente induz efeitos colaterais como náuseas, vômitos, mucosite e diarreia;
- Anorexia induzida pelo tratamento ou pela própria presença do tumor, levando à perda de apetite;
- Alterada absorção de nutrientes, especialmente em casos de tumores gastrointestinais.
Importância clínica
A caquexia é clinicamente relevante devido ao seu impacto profundo na evolução da doença. Pacientes caquéticos apresentam:
- Maior morbidade, com risco aumentado de complicações infecciosas, devido ao comprometimento imunológico;
- Menor tolerância ao tratamento, com redução da capacidade de suportar quimioterapia e radioterapia;
- Aumento da mortalidade, uma vez que a perda muscular severa compromete funções vitais, como a respiração e mobilidade;
- Queda na qualidade de vida, devido à fadiga crônica, diminuição da força física e impacto emocional.
Abordagem terapêutica
O manejo da caquexia é um desafio significativo devido à sua natureza multifatorial. A abordagem deve ser multidisciplinar e envolver:
- Suporte nutricional especializado com dieta hiperproteica e hipercalórica;
- Uso de farmacoterapia, como orexígenos (ex.: acetato de megestrol), anti-inflamatórios e agentes anabólicos;
- Atividade física, com foco em treinamento resistido para preservação muscular;
- Controle dos sintomas, como náuseas e dor, para melhorar a ingesta alimentar.
Gostou? Conheça nossos treinamentos:
Curso de coleta
Plataforma cursau (com mais de 800H de conteúdo e grupo vip)
Pós graduações: micro, análises e perícia
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DA SILVA, Adriana Cândida; DA SILVA PINHEIRO, Luiza; ALVES, Rayane Campos. As implicações da caquexia no câncer. e-Scientia, v. 5, n. 2, p. 49-56, 2012.
DA SILVA, Manuela Pacheco Nunes. Síndrome da anorexia-caquexia em portadores de câncer. Revista brasileira de cancerologia, v. 52, n. 1, p. 59-77, 2006.