Gripe aviária no Brasil em 2025

O Brasil confirmou, em maio de 2025, a primeira ocorrência de influenza aviária H5N1 de alta patogenicidade (HPAI) em uma granja comercial de frangos no Rio Grande do Sul. O que até então era uma ameaça contida à fauna silvestre tornou-se, oficialmente, uma crise zoonótica com implicações imediatas para a saúde animal, a biossegurança nacional e, em segundo plano, mas inevitavelmente, para a saúde humana.

Não se trata apenas de mais um surto em aves. Trata-se de um sinal inequívoco de que estamos diante de um vírus que expande sua zona ecológica e genética com velocidade e flexibilidade suficientes para atravessar fronteiras taxonômicas e geográficas.

Um vírus em mutação constante: o risco de uma transição zoonótica real

O vírus da gripe aviária H5N1 circula globalmente desde os anos 1990, mas sua versão atual tem demonstrado um comportamento biológico diferente. A linhagem clado 2.3.4.4b, dominante nas Américas desde 2021, já foi documentada infectando aves silvestres, aves domésticas, suínos, gatos, ursos, leões-marinhos e humanos, o que configura um padrão ecologicamente disruptivo.

No Brasil, a detecção do H5N1 em mamíferos marinhos no litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, além da ocorrência em aves de subsistência e de produção, mostra que o vírus não mais respeita os limites entre reservatórios silvestres e sistemas produtivos. A infecção em espécies como o leão-marinho (Otaria flavescens), cujos comportamentos sociais favorecem aglomerações, representa não apenas um evento sentinela, mas um possível salto de espécie com implicações evolutivas.

Cada novo hospedeiro representa uma oportunidade de mutação. Cada nova espécie infectada é uma plataforma onde o vírus pode experimentar e, eventualmente, aprender a se transmitir com mais eficiência entre mamíferos. A pergunta, neste momento, não é se o vírus pode causar uma pandemia, mas quais pressões ecológicas e genéticas ainda o impedem de fazê-lo.

Um alerta além das fronteiras: Brasil entra no mapa global da emergência da gripe aviária

A entrada oficial do Brasil no rol de países com surtos de HPAI em criações comerciais altera o equilíbrio geopolítico do controle de zoonoses. Até então, o país figurava como zona livre, posição que sustentava acordos de exportação bilionários em proteína animal. Em menos de 72 horas após a confirmação, mais de 30 mercados internacionais impuseram restrições à carne de frango brasileira, incluindo países asiáticos com alto consumo e exigência sanitária rigorosa.

No entanto, a dimensão econômica, ainda que alarmante, é apenas parte do quadro. O mais relevante neste momento é entender que o vírus já atua em rede global: os mesmos genótipos circulam no Cone Sul, nos Estados Unidos, na Europa Oriental e em partes da Ásia. Isso significa que, mesmo com medidas de contenção local, não há mais ilusão de isolamento biológico. A vigilância precisa ser transfronteiriça, interinstitucional e contínua.

A expansão silenciosa do H5N1 no Brasil: padrões que indicam a necessidade de vigilância contínua

Antes mesmo da confirmação em granja comercial, o vírus H5N1 já circulava no Brasil desde 2023 em aves silvestres, e em 2024 foram identificados casos em mamíferos, incluindo leões-marinhos no litoral sul. Esses episódios, inicialmente tratados como eventos isolados, compõem um padrão de dispersão viral que reforça a necessidade de vigilância ambiental ativa e integrada.

A identificação de casos em diferentes espécies e regiões indica que o vírus propaga-se em rede e exige respostas que considerem o sistema como um todo, incluindo fauna silvestre, criações comerciais e ambientes costeiros.

Dados genéticos e desafios para a compreensão do vírus da gripe aviária no Brasil

As amostras coletadas indicam que a linhagem presente é a clado 2.3.4.4b, predominante nas Américas desde 2021. No entanto, o país ainda carece de uma base pública robusta de sequências completas para rastrear com precisão o caminho evolutivo do vírus em território nacional.

Essa limitação dificulta a identificação de mutações relacionadas à infecção em mamíferos, o rastreamento das origens dos focos e o desenvolvimento de estratégias específicas para vacinas e controle.

O surto de gripe aviária H5N1 no Brasil em 2025 evidencia a complexidade das doenças zoonóticas e a necessidade de uma vigilância contínua e integrada entre saúde animal, ambiental e humana. A presença do vírus em diversas espécies e ambientes mostra o quanto os agentes infecciosos podem se adaptar e expandir sua circulação de forma rápida e silenciosa.

Para profissionais e estudantes da área da saúde, esse cenário reforça a importância do monitoramento genômico, da pesquisa aplicada e da atuação multidisciplinar na prevenção e controle de surtos. A capacidade de detectar mutações, acompanhar a disseminação e identificar possíveis casos humanos será fundamental para a resposta efetiva a esse e a outros vírus emergentes.

Embora, até o momento, não haja transmissão sustentada entre humanos no Brasil, o conhecimento científico e a vigilância ativa são essenciais para garantir a segurança sanitária e minimizar os impactos futuros.

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