A doença de Chagas e seu impacto na saúde pública do Brasil

Você provavelmente conhece alguém que tem doença de Chagas, ou pelo menos já ouviu falar sobre ela durante as aulas de parasito da faculdade, não é? A doença de chagas é uma doença tropical negligenciada (DTN) que afeta milhões de pessoas na América Latina, incluindo o Brasil. É causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitido principalmente por insetos hematófagos triatomíneos, conhecidos popularmente como barbeiros ou chupança, que tem hábitos majoritariamente noturnos e ganharam esses nomes por fazerem seu repasto sanguíneo na região da face dos indivíduos.

A infecção pelo T. cruzi pode permanecer silenciada e sem sintomas pelo resto da vida do hospedeiro, ou então evoluir para formas crônicas, afetando principalmente o coração, esôfago e intestino. Apesar dos avanços no combate à transmissão, que atualmente é praticamente erradicado no Brasil por via vetorial, a doença ainda representa um desafio significativo para o Sistema Único de Saúde (SUS), demandando estratégias integradas de prevenção, diagnóstico e tratamento, já que os sintomas da doença podem permanecer latentes por dezenas de anos.

Ok, mas qual o real impacto da doença de Chagas no SUS?

O SUS desempenha um papel crucial na prevenção da doença por desempenhar ações voltadas ao controle vetorial, diagnóstico e educação em saúde. As campanhas de erradicação do barbeiro e as melhorias habitacionais foram, e ainda são fundamentais para reduzir esse tipo de transmissão. A doença também pode ser transmitida por transfusões sanguíneas, transplantes de órgãos, de forma vertical, ou seja, de mãe para filho durante a gestação, e através de alimentos contaminados, o que atualmente representa o maior desafio para saúde pública. Afinal, quem não se lembra do caso do açaí contaminado com T. cruzi? Portanto, a doença requer vigilância contínua.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico precoce da doença de Chagas é essencial a fim de evitar complicações graves. No SUS, o acesso ao diagnóstico sorológico e ao tratamento medicamentoso é garantido. No entanto, desafios persistem, especialmente por que os sintomas agudos são em sua maioria genéricos e semelhante a diversas outras infecções. Pacientes com doença de Chagas crônica podem apresentar cardiomegalia, insuficiência cardíaca e arritmias, e frequentemente necessitam de tratamento de alta complexidade, incluindo marcapassos e até transplantes de coração. Além disso, pacientes com mega esôfago e mega cólon podem ser submetidos a procedimentos de desobstrução e cirurgias, o que gera uma demanda significativa por recursos, destacando a necessidade de políticas públicas eficazes e de longo prazo.

Além das ações diretas de controle e tratamento, a educação sanitária é fundamental para a conscientização da população. Por fim, programas educativos ajudam a desmistificar a doença, informar sobre formas de prevenção e reduzir o estigma associado aos pacientes.

Em resumo, essa doença apesar da redução no número de casos, ainda afeta milhões de brasileiros, portanto continuar investindo em políticas públicas de saúde, pesquisa e educação é fundamental para avançar no combate a essa doença que apesar do seu impacto, continua negligenciada.

Gostou? Conheça nossos treinamentos:

Curso de coleta
Plataforma cursau (com mais de 800H de conteúdo e grupo vip)
Pós graduações: micro, análises e perícia

Referência bibliográfica:

Nunes, M. C. P., Dones, W., Morillo, C. A., Encina, J. J., & Ribeiro, A. L. P. (2013). “Chagas disease: an overview of clinical and epidemiological aspects.” Journal of the American College of Cardiology, 62(9), 767-776.

Dias, J. C. P., Ramos, A. N., Gontijo, E. D., Luquetti, A., Shikanai-Yasuda, M. A., Coura, J. R., … & Almeida, E. A. (2016). “2nd Brazilian Consensus on Chagas Disease, 2015.” Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 49, 3-60.

Ministério da Saúde (Brasil). (2019). “Manual de Vigilância e Controle da Doença de Chagas.” Brasília: Ministério da Saúde.