No que consiste a gliconeogênese?
A gliconeogênese é um processo metabólico crucial pelo qual a glicose é sintetizada a partir de precursores não carboidratos, como lactato, glicerol e aminoácidos. Esse processo é especialmente importante durante períodos de jejum prolongado, exercício intenso, ou em situações de déficit de carboidratos, como uma dieta cetogênica, garantindo um suprimento constante de glicose para órgãos vitais, como o cérebro e os músculos.
Conceito de gliconeogênese
A gliconeogênese é essencialmente a “nova formação de glicose”. Ela permite que o corpo mantenha níveis adequados de glicose no sangue (glicemia) quando a ingestão de carboidratos é insuficiente para atender às demandas energéticas. Embora a gliconeogênese compartilhe algumas enzimas e etapas com a glicólise (o processo de quebra da glicose), as duas vias são distintas e, em alguns pontos, reguladas de maneira inversa.
Enquanto a glicólise converte glicose em piruvato, liberando energia na forma de ATP, a gliconeogênese converte piruvato (ou seus precursores) de volta em glicose. Este processo consome energia, utilizando ATP e GTP (guanosina trifosfato), refletindo a natureza anabólica (construtiva) da gliconeogênese, em contraste com a natureza catabólica (degradativa) da glicólise.
Onde a gliconeogênese ocorre?
A gliconeogênese ocorre predominantemente no fígado, que é o principal órgão responsável por manter a glicemia em níveis adequados. Em menor grau, ela também ocorre nos rins, particularmente durante períodos de jejum prolongado, onde pode contribuir significativamente para a produção de glicose. O fígado, no entanto, é o principal local onde os substratos da gliconeogênese, como lactato, aminoácidos e glicerol, são convertidos em glicose, a qual é então liberada na corrente sanguínea.
Dentro das células hepáticas e renais, a gliconeogênese se desenrola no citosol, mas também envolve organelas como as mitocôndrias. Certas enzimas essenciais, como a piruvato carboxilase, que catalisa a conversão de piruvato em oxaloacetato, estão localizadas na mitocôndria, enquanto outras etapas, como a conversão de frutose-1,6-bisfosfato em frutose-6-fosfato, ocorrem no citosol.
Por que esse processo é importante?
A função primária da gliconeogênese é manter a glicemia estável durante períodos em que a ingestão de carboidratos é baixa ou a demanda por glicose é elevada. Esta é uma função vital porque o corpo, especialmente o cérebro e os glóbulos vermelhos, depende da glicose como sua principal fonte de energia.
- Manutenção da Glicemia: Durante o jejum, as reservas de glicose na forma de glicogênio hepático são depletadas após cerca de 12 a 24 horas. Quando isso ocorre, a gliconeogênese se torna a principal fonte de glicose no sangue, a fim de evitar a hipoglicemia, que pode ser perigosa e levar a sintomas como fraqueza, confusão mental e, em casos graves, perda de consciência ou convulsões.
- Metabolismo durante o exercício: Durante exercícios prolongados e intensos, o músculo esquelético libera lactato, que é transportado para o fígado. No fígado, o lactato é convertido de volta em glicose pela gliconeogênese em um ciclo conhecido como ciclo de Cori. Essa glicose pode então ser utilizada pelos músculos para fornecer energia contínua.
- Reciclagem de Precursores: A gliconeogênese também recicla compostos que, de outra forma, seriam descartados como resíduos. Por exemplo, o lactato produzido durante a glicólise anaeróbica no músculo é reconvertido em glicose, evitando o acúmulo de ácido lático e prevenindo a acidose.
- Equilíbrio Metabólico: Por fim, além de fornecer glicose, a gliconeogênese desempenha um papel na regulação do balanço entre proteínas e lipídios. Durante a fome, a degradação de proteínas musculares e a lipólise fornecem aminoácidos e glicerol como substratos para a gliconeogênese.
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Referência bibliográfica:
NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 7 Porto Alegre: Artmed, 2019, 1278 p.