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Como surgiu a anestesia?

A história da anestesia é um dos capítulos mais revolucionários da medicina, transformando profundamente a prática cirúrgica e o tratamento da dor. Antes do desenvolvimento da anestesia, procedimentos cirúrgicos eram excruciantes, e pacientes frequentemente sofriam ou até morriam devido ao choque da dor.

Primeiros métodos de alívio da dor

Desde tempos antigos, várias culturas procuravam maneiras de aliviar a dor durante os procedimentos médicos. Civilizações como os sumérios, egípcios e gregos usavam ervas, ópio, álcool e outros compostos naturais com propriedades analgésicas para tentar minimizar o sofrimento dos pacientes. No entanto, esses métodos ofereciam apenas alívio parcial, e muitos procedimentos cirúrgicos eram rápidos e brutais, realizados com grande sofrimento.

Na Idade Média e Renascimento, o uso de substâncias naturais continuou, com variações de técnicas baseadas em ervas e compressas. A cauterização e a amputação, muitas vezes necessárias em situações de guerra, eram realizadas sem controle efetivo da dor.

O surgimento dos gases anestésicos

A verdadeira transformação no controle da dor começou a se desenrolar no século XVIII, com o início da exploração científica de gases. A descoberta do gás hilariante (óxido nitroso) pelo químico inglês Joseph Priestley, em 1772, foi um marco importante. No entanto, foi apenas no início do século XIX que o potencial desse gás para aliviar a dor foi reconhecido. Humphry Davy, um cientista britânico, observou que o óxido nitroso poderia reduzir a dor física e sugeriu que ele poderia ser usado em cirurgias. Apesar disso, a ideia não foi imediatamente aplicada.

Na década de 1840, o dentista norte-americano Horace Wells foi um dos primeiros a usar o óxido nitroso como anestésico em extrações dentárias, demonstrando que ele poderia evitar a dor de forma eficaz. Wells, porém, teve dificuldades em popularizar a técnica após uma demonstração pública mal-sucedida em 1845

O éter e o grande avanço na anestesia

A virada decisiva no desenvolvimento da anestesia ocorreu em 1846, com a introdução do éter como anestésico geral. O dentista norte-americano William T.G. Morton demonstrou, no Massachusetts General Hospital, que o éter podia ser usado para induzir anestesia em uma cirurgia de remoção de um tumor no pescoço. A demonstração foi um sucesso e marcou o início da era moderna da anestesia.

A utilização do éter teve um impacto profundo na medicina. Pela primeira vez, os cirurgiões podiam realizar operações demoradas e complexas sem causar dor insuportável aos pacientes.

Clorofórmio e popularização

Pouco depois do sucesso do éter, outro anestésico se tornou popular: o clorofórmio. Em 1847, o obstetra escocês James Young Simpson descobriu que o clorofórmio tinha propriedades anestésicas potentes. Ele começou a usá-lo em suas práticas obstétricas, ganhando atenção internacional quando a Rainha Vitória o utilizou durante o parto de seu oitavo filho, em 1853.

No entanto, o clorofórmio apresentou riscos significativos. Ao longo dos anos, foi descoberto que ele podia causar toxicidade hepática e cardíaca, levando a óbitos em algumas ocasiões.

Avanços da anestesia no Século XX

Com o início do século XX, a pesquisa em anestesia avançou com a introdução de novos compostos, técnicas e formas de administração. A invenção das máscaras de inalação e seringas para a administração intravenosa de anestésicos permitiu melhor controle sobre o nível de anestesia e uma recuperação mais rápida para os pacientes.

Entre os novos compostos introduzidos estava o pentotal sódico, um barbitúrico que revolucionou a anestesia intravenosa na década de 1930. Esse anestésico proporcionava uma indução mais rápida e previsível da anestesia, além de ser mais seguro do que o éter e o clorofórmio. Outros avanços incluem o desenvolvimento de anestésicos locais, como a lidocaína.

Anestesia moderna

Hoje, a anestesia é uma prática extremamente sofisticada, adaptada a cada paciente e ao tipo de procedimento cirúrgico. Os anestesiologistas, especialistas que monitoram e administram os anestésicos, utilizam uma combinação de medicamentos, equipamentos e técnicas para garantir o máximo de segurança e conforto ao paciente. Entre os anestésicos mais usados atualmente estão o propofol, sevoflurano e o fentanil.

A anestesia moderna envolve três componentes principais:

  • Anestesia geral, que provoca a perda de consciência.
  • Anestesia regional, como a raquianestesia e a epidural, que bloqueiam a dor em grandes regiões do corpo.
  • Anestesia local, que bloqueia a dor em áreas específicas.

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Referência bibliográfica:

PASTRANA, Luis. A história da anestesia: do ópio ao anestésico moderno. 1. ed. São Paulo: Manole, 2010.

HART, Steven D.; CORDY, Christopher. Anesthesia: A comprehensive review. 3. ed. New York: McGraw-Hill, 2017.

MOYER, Robert S. History of anesthesia: The development of anesthesia and its significance in medicine. In: Anesthesia & Analgesia. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2000. p. 163-170.

MONTGOMERY, James W. Anesthesia: A history of its practice. 1. ed. London: Oxford University Press, 2005.